Por enquanto, adeus!

Destacado

Há muito tempo que eu não escrevo aqui, então provavelmente pode até ser que você nem me conheça. Olá, meu nome é Juliana. Comecei a escrever esse blog há muito tempo, em meio a uma inspiração que ao mesmo tempo que me fazia bem, tinha um leve ar sombrio sobre sentimentos e coisas que eu não entendia. Era uma ótima forma de externar as minhas dores e sentimentos que nunca foram ditos. Na época, eu tinha muito tempo livre, e isso contribuiu para que além de sentimentos, eu ousasse escrevendo séries e vendo até onde ia a minha imaginação na criação de personagens, e tudo isso foi muito bom.

Porém, veio o desemprego, relacionamentos abusivos, o afastamento de amigos e uma desmotivação descomunal. Juntando tudo isso, veio o chamado bloqueio criativo, que primeiro durava alguns dias, depois alguns meses e assim foi até chegarmos hoje.

Eu ainda gosto muito do blog e de tudo que eu construí. É realmente gratificante ver até onde eu fui capaz de chegar, porém não me sinto mais a vontade para continuar com ele, ou pelo menos a ideia dele. Já abrir outros blogs, tentando ir para outros segmentos, porém acabei abandonando também, pois o problema no fim das contas não era a ideia em si e sim a minha cabeça que havia mudado.

Hoje, eu cresci muito em relação ao meu eu do passado. Estou num relacionamento maravilhoso, em um emprego maravilhoso, e quase me formando em um curso superior. Tudo isso é muito bom, mas além disso, eu me tornei uma pessoa maravilhosa também, com amigos maravilhosos e tudo mais de maravilhoso que pode ter na vida de alguém.

Quem sabe um dia eu volte a escrever. Tenho pensado muito nisso, pois é algo que eu sinto muita falta, mas talvez este não seja o momento. Ainda não. De qualquer forma, uma coisa é certa, neste blog em específico, não pretendo mais escrever. Os textos que estão aqui, vão permanecer aqui, porém não pretendo trazer textos novos para cá. A página do facebook também ficará ativa, com este mesmo último texto inclusive, porém não sei por quanto tempo.

De qualquer forma, agradeço a cada leitor que esteve comigo, seja por que era frequente, ou por curiosidade, apesar de não ser números grandes, mas pelo painel do blog, tinha até um número considerável de leitores por dia. Por vocês que eu agradeço muito por todo esse tempo. Vocês foram uma grande motivação para eu não ter desistido lá no começo. Se eu voltar a escrever, irei avisá-los aqui e pela página, provavelmente num novo blog que reflita mais o meu momento, ou o meu verdadeiro eu.

Muito obrigada por tudo, e por enquanto, adeus. 

juhliana_lopes 01-03-2020

Desenho

O dia havia amanhecido, mas não havia o brilho do sol. Chovia forte, e o céu ainda estava escuro por contas das nuvens. Eu levantei, com o corpo cansado e um pouco de dor nos ombros. Fui até a cozinha e peguei um copo de água e voltei me arrastando pesadamente até o quarto. Abri um pouco a janela para que o ar pudesse circular e sentei na cama, acendendo um cigarro. Fazia muito tempo que eu não fumava, mas aquele era um momento especial. O céu se clareou de repente com um raio forte, e logo em seguida ouvi o estrondo de um trovão. Me virei para te olhar a tempo de ver você se mexendo preguiçosamente na cama, incomodada com o barulho. Não havia sido o suficiente para te acordar. Nada era naquele momento. Fiquei então um tempo observando a fumaça que subia do meu cigarro, até me dar conta de que no criado mudo havia um desenho.

Era tão estranho como as coisas haviam chegado naquele ponto. Há um ano eu era um mero farejador. Um caçador. Um animal. Um nada perante os homens que tinham posses. Diante deles, eu não passava de um objeto, de mais um empregado que deveria agradecer pela oportunidade de trabalho. Achavam que eu deveria me orgulhar por cumprir suas ordens de forma tão obediente. Não me orgulhava. Como animal, matei muitos. Alguns mereciam a morte, outros não, mas em momento nenhum eu deveria ter tido o direito de tirar suas vidas. Aos que mereciam, não era necessária intervenção, pois a estes a morte sempre os encontra, mais cedo ou mais tarde. Aos que morreram sem motivo, eu tenho apenas o meu lamento e os seus gritos de horror em minhas lembranças.

Eu já estava tão acostumado a viver pelo mato me rastejando que não olhava mais para o alto. Não olhava mais ao redor com a mesma sensibilidade de uma pessoa comum. Eu podia ter certeza de que já havia vendido a minha alma, e para mim não haviam mais chances, na verdade, ao lembrar de meu passado, muitas vezes ainda acredito nisso. Em todo caso, foi quando comecei mais uma de minhas caçadas que eu me rendi. Eu não era só um caçador, eu também era um alvo, e ao encarar os seus olhos, tão escuros e tão profundos, me vi desarmado, fraco e sem reação.

Você. Linda, com o cabelo no rosto, e os braços estendidos enquanto apontava o revólver para mim. Não havia nenhum sinal de medo. Suas mãos estavam firmes, e sua respiração era tão lenta quanto a de um monge. Concentração. Para minha sorte, seus olhos encontraram os meus, o que me garantiu um tempo maior para que eu pudesse admirá-la. A cicatriz no ombro está se fechando completamente, mas foi ela que me deu você. Ao me transformar em minha forma real, coisa que não fazia há tanto tempo, seus olhos se arregalaram, revelando um susto que ativou seus membros efetuando o disparo. Ao ver que o tiro não havia feito estrago, você hesitou. Era a minha deixa. Talvez naquele momento eu ainda estivesse no piloto automático, afinal quando avancei ainda tinha em mente o meu trabalho, mas tudo estava tão confuso.

Seus olhos me perturbavam de tal maneira que eu precisava tê-los mais perto de mim. Você estava no chão, meu corpo sobre o seu corpo. Seus braços presos pelos meus. Seus olhos em mim e uma respiração ofegante, mas não era medo. Não tinha cheiro de medo. Ao chegar perto de seu pescoço, pude sentir o seu perfume doce, aliado ao seu cheiro natural. Não era humana, mas também não era um monstro como eu. Era melhor. Seu coração acelerado se encontrava com o meu. Agora eu estava perdido e já sabia que não ganharia o pagamento daquele dia, pois ele era o que menos importava naquele momento.

Outro trovão cortou meus pensamentos e então ouvi um gemido. Era você na cama, se mexendo novamente me procurando. Estendi a mão para tocar seu braço fazendo um carinho. Logo seus olhos, levemente abertos me fitavam com a mesma ternura de sempre. Subitamente, você vira de costas e volta a dormir. O cigarro já estava no fim, então o abandonei no cinzeiro, peguei o desenho e me deitei na cama o observando. Tão delicada, tão doce. Mesmo em meio a crueldade do mundo, você ainda guardava o que havia de melhor. Mantinha a sete chaves, mas naquele dia eu arrebentei as fechaduras. Sua doçura não tinha nada a ver com fraqueza. A prova veio no mesmo dia, quando me pressionou pelo pescoço contra uma árvore. Poderia muito bem ser um brutamontes qualquer de um bar sujo, mas era você. A brutalidade não a assustava, mas o amor sim. Um amor estranho, de repente, com tal intensidade que era capaz de tornar monstros renegados em doces amantes.

Quando não estava de serviço, assumia sua forma real. Doce, terna e cruel. Sua visão sobre mim era doce. Seu desenho sobre mim era doce. Seus cuidados para comigo, antes e depois dos trabalhos eram ternos. Sua preocupação era terna. Quando eu fazia algo que não lhe agradava, ou quando algo dava errado no trabalho sua crueldade aflorava. E mesmo quando cruel era justa. A crueldade não era só maldade, mas também malícia e é com ela que você me tem em suas mãos.

À noite, quando nossos olhos se encontram me sinto completo, e sei que não sou só animal ou só homem. Quando nossa respiração sincroniza, sinto que você não é só humana, mas sei que não é só sobrenatural. Quando nos unimos, sei que não somos um só, somos nós. Pelos seus carinhos, sinto que você não toca somente a mim, mas também a minha alma. O desenho em minha mão, o desenho de um lobo, não se trata apenas de mim, mas de minha essência. E eu sei que você não é só minha mulher, mas o meu maior tesouro. Minha salvação.

juhliana_lopes 18-10-2017

A viagem

Karina estava muito animada. Aquele ano havia sido muito generoso com ela. No ano anterior se formou jornalista, e no início deste ano já conseguiu um emprego na área. Melhor que isso, dois meses depois conquistou sua própria coluna quinzenal. Seus artigos, escritos com uma minúcia impecável, tratava de qualquer assunto com profundidade e propriedade. Não só informava o leitor, como também ensinava coisas novas, de forma didática e objetiva. Era um ano realmente bom. Não só seus artigos ficaram conhecidos, mas também suas crônicas, que até o meio do ano não passavam de hobbies. Foi só seu editor chefe ler, que logo teve a ideia de lançar uma mini revista junto com o jornal. Entre propagandas pagas e anúncios gratuitos, lá estava uma “CroniKa”, trazendo um humor ácido, porém muito inteligente. Os assuntos cotidianos retratados por Karina, se tornavam uma poesia boêmia, onde todos se divertindo lendo, pois mesmo diante de um assunto polêmico, ela conseguia trazer uma sutil visão, só sua, que logo era de todo mundo. Não demorou para as crônicas irem para um blog, e então começarem os convites para o lançamento de um livro. Várias propostas, e Karina estudava cada uma delas, afinal, aquele estava sendo um ano muito generoso.

Fim do ano, férias coletivas, Karina se preparava para uma viagem dos seus sonhos. Disney, Europa? Não. No alto dos seus 33 anos, Karina só pensava em curtir o seu descanso passando por cidades do interior, coletando histórias do povo, e assim, aumentar seu material para artigos e crônicas. Seu amigo Noah também se preparava. Ele não era jornalista e sim biólogo, mas se formou na mesma faculdade que ela. Melhores amigos, sempre dividiram experiências, e agora se preparavam para a primeira viagem juntos. Foi ideia de Noah fazer a viagem, enquanto Karina escolheu o lugar no mapa aleatoriamente. Cidade de Portinho, praticamente uma vila antiga sobrevivente no mundo moderno. Sem edifícios enormes, com uma linha de trem na cidade para trens de carga. Um hospital, uma delegacia, um grande mercado e algumas pequenas pousadas. Divisa com um rio, maior orgulho da cidade, que desagua em outro rio maior na cidade vizinha. Rio limpo, bem cuidado, um brinco como diriam os mais velhos. Cidade pequena, pouco mais de 875 habitantes. Isso mesmo, 875 e não 875 mil. Cheia de mato como diriam alguns, mas cheia de histórias maravilhosas também.

Chegar lá não era muito fácil, mas Karina e Noah conseguiram. Depois de parar no aeroporto, foi necessário dois ônibus para chegar a cidade vizinha e de lá, pegar um táxi. Já era fim do dia e o sol já começava a se pôr, pintando o céu de laranja com tons violeta. Eles se instalaram em uma pousada próxima ao mercado. Karina já começava a escrever em seu Notebook sobre as coisas que viu, sobre o percurso, a demora e o lugar em que iam dormir. Noah, preparava seu material para colher algumas amostras no tão famoso rio da cidade no dia seguinte, porém a noite que deveria ser tranquila e silenciosa, como rotina em locais isolados, foi interrompida por gritos tortuosos. Era claramente um grito de sofrimento, dor e que causava arrepios para qualquer um que ouvisse. Noah correu para o quarto de Karina que já estava na janela procurando de onde o som estava vindo. Da mesma forma que se iniciou, o lamento se interrompeu subitamente e a cidade voltou a dormir como se nada tivesse acontecido.

Pela manhã, Noah escolhia cuidadosamente os pães para o seu café da manhã, enquanto Karina interrogava alguns moradores, em busca de informações. “É só o louco da cidade”, desconversava a maioria, deixando claro com seu desconforto ao responder qualquer coisa que aquele era um assunto “intocado” na cidade, e como uma criança que continua rabiscando a parede mesmo depois de você dizer que não pode, Karina continuava perguntando e tentando extrair alguma informação. O dia estava aberto, ensolarado e os pássaros brincavam alegres próximo as raízes das árvores. Noah, enquanto caminhava sozinho observando as paisagens, sem querer descobriu que o tal “louco” morava próximo ao cemitério, e que na verdade não era exatamente louco, e nem tinha qualquer desordem mental. O homem, que se chamava Alberto, mas que todos conheciam como “Au”, ou Beto. Era famoso na cidade por suas “adivinhações”. Era um dos pontos turísticos da cidade, com uma casa pequena pintada de amarela do lado de fora, com as paredes em azulejo azul bebê. Diziam que ele era capaz de saber tudo o que havia acontecido com você desde que chegará na cidade e arriscava alguns palpites sobre o futuro. Sempre vestido com roupas escandalosas, em um tom de roxo vivo e cintilante, aplicava pequenos golpes e sobrevivia do dinheiro que ganhava dos turistas. O golpe era que ele pagava alguns moleques para vigiar os visitantes, segui-los desde a sua entrada até a sua saída. Eles passavam todas as informações para Beto, que quando se transformava em “Au”, sabia tudo. Depois, sobre o futuro, era só fazer uma previsão simples e garantir que os moleques fariam acontecer. Mesmo quando descobriam o truque, os turistas não ficavam bravos, afinal sua excentricidade era bem divertida. Mas louco? Noah se perguntava. Puxando algumas conversas paralelas, descobriu que Beto havia ganhado a alcunha quando aos 20 anos, sofreu uma “possessão”, e dera informações sobre o passado da cidade e sobre um futuro sombrio. Na época toda cidade ficou temerosa, afinal o espetáculo foi assustador: Beto se debatida ferozmente até arrancar sangue dos braços, e com as mãos sujas, escrevia coisas confusas nas paredes. Depois gritava em agonia e se retorcia no chão, e quando finalmente pareceu estar em paz, falou com uma voz calma e serena (com os olhos virados para trás), que o futuro era maligno, pois aquela que trouxe a desgraça para a cidade uma vez, havia nascido novamente.

Era realmente uma história macabra, mas Noah não estava exatamente convencido. Foi quando um velho que tomava uma dose de pinga, disse sem se importar: “Só sabemos que essa possessão foi verdadeira, porque uma senhora a mais antiga da cidade na época confirmou alguns relatos, e decifrou o que ele havia escrito na parede. Depois disso nunca havia acontecido nada parecido, até ontem. ” Na noite anterior, os gritos ouvidos foram de Beto, porém a cidade não fez questão de tentar entender desta vez e resolveu apenas abafar a história. Não queriam maus presságios novamente. Tinham medo.

Ao meio dia, enquanto almoçavam, Karina contava animada sobre as coisas que havia visto na cidade. O mercado, a delegacia, a linha do trem… Tudo era magnífico, mas ela também havia descoberto algo a mais.

– Você sabia que existe uma senhora com mais de 100 anos na cidade? – Disse Karina, animada.

– Mais de 100? – Perguntou Noah enquanto mastigava.

– Sim, completou 115 anos semana passada. Acho que vou fazer uma visita para ela mais tarde. Dizem que ela sabe algo sobre alguma profecia na cidade.

– Fiquei sabendo de algo assim também… – disse Noah enquanto colocava mais uma porção de comida na boca.

– Como assim?

– O louco – Noah contava enquanto mastigava – é um homem que ganha dinheiro fingindo que consegue adivinhar o futuro das pessoas. Aos vinte anos ele teve uma visão macabra e surtou legal. Os gritos que a gente ouviu ontem a noite eram dele…

– Noah, você fica sabendo disso e só me conta agora? Tem noção de como isso pode se tornar uma excelente história? – Disse Karina exaltada, deixando o garfo cair.

– Ka, não tem nada de extraordinário aqui. Faz trinta anos desde o último surto. Ele pode só ter alguma desordem mental, e agora com a idade chegando, isso pode estar ativando de novo. Não tem nada de anormal aí. – Respondeu Noah um pouco desinteressado.

– Onde você vê nada de anormal, eu vejo algo digno de primeira capa. Toda história que mexe com a crendice do povo ganha proporções enormes, e além disso, eu também quero descobrir os segredos desta história. – Karina encerrou a conversa se levantando e indo para o seu quarto.

Após o almoço, Noah acompanhou Karina até a casa da tal mulher centenária. Por mais cético que ele fosse, não queria que sua amiga fosse sozinha atrás dessa história, afinal, ninguém sabia o que poderia acontecer. A senhora, era nada menos que parente de Beto, e ele cuidava dela desde que as filhas morreram. Ela era sua tia avó, a mais velha de três irmãs. A avó de Beto e a outra irmã morreram no parto. O filho da outra tia morreu dois anos depois que nasceu. A mãe de Beto também faleceu assim que ele nasceu. O local era agradável, e Karina aproveitava para fotografar tudo. Noah, andava despreocupado pelo lugar, até chegar a um quarto. Ela estava lá. Sentada em uma cadeira de rodas de olhos fechados repousando. Antes que pudesse entrar, Beto o interceptou.

– Ei, o que você está fazendo?

– Desculpe, eu só estava olhando. – Respondeu Noah, se afastando a porta.

– Oi, tudo bem? Meu nome é Karina. – Disse Karina se aproximando estendendo a mão para Beto.

Ele hesitou, mas deu a mão para o cumprimento. Quando a tocou, seus olhos viraram assustadoramente para trás, e ele respondeu com uma voz completamente diferente.

– Olá bela dama da noite. Enfim a profecia irá se cumprir! Hoje, no alto da lua cheia, o sacrifício estará esperando por você!

Era uma voz profunda, como se tivesse ecoando por séculos. Na mesma hora, no quarto, Noah podia jurar que a senhora havia aberto os olhos e que eles estavam brilhando, mas ele não tinha certeza, afinal havia ficado com muito medo da situação. Os olhos de Beto voltaram ao normal e então ele disse com sua voz natural e um sorriso no rosto:

– Ah, oi. Eu sou Au, vocês vieram para uma sessão de adivinhações?

– Eu… – Karina ficou sem saber o que dizer.

– Beto, o que você disse? – Perguntou Noah.

– Se vocês vieram para uma sessão de adivinhações? – Respondeu ele um pouco confuso.

– Não, antes disso…

– Perguntei o que você estava fazendo quando estava espionando minha tia. – Beto respondeu sério.

– Não… Beto, você disse algo sobre uma profecia… e sacrifício… – Tentou explicar Noah.

– Vocês estão fazendo algum tipo de brincadeira comigo? Eu não falei nada sobre isso. O que vocês querem aqui afinal? – Ele perguntou um pouco nervoso.

– Beto… – Começou Noah.

– Somos jornalistas. – Interrompeu Karina. – Queremos a sessão, mas também queremos conversar com a centenária. É possível?

– Claro, meu anjo. – Respondeu Beto agora mais tranquilo com um sorriso no rosto. – Vou me preparar, só um minuto.

– Karina, você ouviu o que aquele louco falou? Você não vai ficar sozinha com ele numa sala. – Noah falou baixinho para Karina.

– Eu vou sim, e você também. E depois juntos vamos falar com a mulher. – Disse Karina.

– Na verdade, podem conversar comigo agora e preferirem. – Respondeu a mulher que estava em pé na porta do quarto.

Após o susto, sentaram-se na sala, e Karina ávida por respostas, ouvia cada coisa com atenção. A senhora pacientemente começou a contar a história da cidade, porém Noah ainda estava muito perturbado e a interrompeu.

– Desculpa senhora, mas poderia falar logo sobre a profecia?

Ela ficou muito séria, e então começou a olhar fixamente para Karina com uma expressão de terror.

Há 100 anos, morria uma feiticeira. Ou pelo menos era como os antigos a chamavam. Era uma mulher que se divertia matando pessoas aleatórias, deixando elas sangrarem até morrer. Não havia nenhum motivo específico aparente. Todos tinham medo, e assim, ela continuava com os assassinatos. Com um tempo, ela foi transformando esses atos medonhos em rituais. As pessoas com medo, ofereciam pessoas de suas próprias famílias para que eles não fossem amaldiçoados. Até que um dia, uma autoridade da cidade, cansado do povo passivo, se rebelou contra a feiticeira e a colocou para queimar em uma fogueira. Naquele mesmo dia, após a execução, foi achado um papel com uma grafia estranha, mas que os antigos sabiam ler. Lá dizia que após 100 anos da execução, ela voltaria com a idade de sua morte para realizar o último massacre, e no alto da lua cheia…

– O sacrifício estaria esperando, e a profecia iria se cumprir… – Karina completou a frase final sem perceber.

– Karina? – Chamou Noah.

– O que? – Ela pareceu acordar de um transe.

Mais uma vez a senhora olhava fixamente para Karina. Olhos profundos.

– Eu tinha 15 anos quando aconteceu. Meus avós me alertaram que a assassina seria reconhecida por uma mancha de nascença, uma mancha como um corte de faca um pouco abaixo da costela direita. Esse seria o sinal.

– Tia? – Falou de repente Beto, apontando para Karina.

Noah olhou para amiga que estava com a blusa levantada na altura da barriga, observando sua marca de nascença, com os olhos marejados.

– Noah… eu não to me sentindo bem… – Disse Karina antes de desmaiar.

– Mas que merda vocês fizeram com ela? – Noah se levantou irritado.

Beto ia pedir desculpas, porém seus olhos viraram de novo e agora ele estava em uma postura muito estranha. Começou a se debater, e então foi para cima de Noah, lhe dando uma chave de braço.

– Me larga cara, você está louco? – Noah tentava se soltar.

A senhora ficou apenas sentada, de olhos fechados. Noah então perdeu as forças e desmaiou.

Mais tarde, a meia noite, Noah acordou amarrado em cima de uma pedra, rodeado por muitas pessoas com fogueiras. Seu coração estava acelerado, e logo o ar não chegava em seus pulmões. Desesperado, tentou gritar por socorro.

– Que porra é essa? Cadê a Karina? Me soltem seus malucos! Cadê a Karina?

– Aqui. – Ela respondeu séria. Usava um vestido vermelho que ele nunca tinha visto. Estava com uma expressão sombria e assustadora.

– Karina, que merda de brincadeira é essa? Me tira daqui logo, você sabe que eu não gosto desse tipo de coisa.

Ela então se aproximou e puxou seus cabelos contra a pedra, encostando uma lâmina em seu pescoço. Noah estava aterrorizado demais para falar qualquer coisa.

– Eu não sei onde você acha que isso é uma brincadeira. Mas tudo bem, eu vou relevar a sua insolência.

–  Karina… – Noah disse baixinho – Que tipo de lavagem cerebral eles fizeram em você?

– Não existe lavagem cerebral – Karina respondeu – Só existe a verdade. E agora, irei concluir o meu sacrifício.

Karina então se levantou e disse algumas palavras em línguas estranhas, então, se virou rapidamente e cortou a garganta de Noah em um movimento rápido, deixando seu sangue escorrer. Todos gritaram um tipo de canto assombroso. Karina então falou alto:

– Que a profecia então se cumpra!

E todos gritaram e com as tochas, começaram a colocar fogo uns nos outros. Noah, em seu último suspiro observava a cena com horror.

Pela manhã, todos estavam mortos, e aves carniceiras começavam a voar no alto procurando algo para comer.

Longe dali, Karina abandonava um carro na beira da estrada e ia em direção a um ponto de ônibus. Quando o veículo chegou, pediu para ir à cidade vizinha e perguntou onde ela poderia comprar passagens para o aeroporto. O motorista explicou tranquilamente, porém antes que ela fosse sentar em algum lugar, ele sinalizou:

– Moça, acho que você sujou a mão de batom e passou no rosto. Sua bochecha está manchada… – Ele disse apontando para o próprio rosto.

– Ah, sim. Muito obrigada. – Ela respondeu docemente, procurando um espelho na bolsa. Quando se sentou, colocou uma música em seu celular e disse para si mesma com um sorriso no rosto– É realmente um ótimo ano….

juhliana_lopes 09-09-2017

Velho

Esses dias, dias comuns desses que não acontecem nada de interessante, nem mesmo vai acontecer. Aqueles dias que até os pássaros parecem entediados, e voam preguiçosamente de um lado para o outro em busca de alguma migalha para encher o papo. Aqueles dias onde o mundo parece amanhecer cansado e ao final da tarde, com um crepúsculo rose, leva consigo um desanimo típico dos que não aguentam mais suas vidas. Foi num desses dias que ao me ocorrer alguns pensamentos diversos, me dei conta de que talvez, eu possa ter nascido com uma idade errada.

A ideia parece completamente insana, e provavelmente é, mas o fato é que me sinto como se tivesse pelo menos 30 anos a mais que a idade que marcam os meus documentos. Teria eu já nascido velho? Seria uma ótima teoria para explicar todo o meu apreço pela solidão ou mesmo para justificar meus momentos rabugentos. Com certeza seria uma ótima ideia. Por diversas vezes, me sinto completamente cansado. Cansado de acordar cedo, cansado dos cigarros que levam os poucos trocados que me restam, cansado das pessoas…. É quando paro para lembrar quando foi a última vez que estive revigorado, percebo que não há momento algum que eu estivesse realmente disposto. Dado a isso, cheguei à conclusão torpe de já ter nascido velho. Além do cansaço típico das idades avançadas, eu também tenho uma enorme falta de paciência. Discussões tolas de amor ou mesmo joguinhos sentimentais não surtem mais nenhum efeito, assim como provocações sutis e flertes descarados. Nada disso é capaz de despertar nada em mim. Nem mesmo uma faísca de emoção. Um velho e mal-amado é o que eu sou, e eu mal acabei de completar três dezenas.

As pessoas e suas rotinas. Todos os dias, é praticamente impossível não esbarrar em ninguém, e claro não existem gentilezas. Nenhum pedido de desculpas ou nem mesmo um pedido de licença para evitar os atritos. Não há tempo para isso. Sempre tão apressadas, tão donas de suas horas. Correm de um lado para o outro, assim como os pássaros que voam. Arrastam-se preguiçosamente de um lado para o outro atrás de migalhas monetárias. Chega a ter um tom poético, mas no fim das contas, não passam de rotinas repetitivas e entediantes. Eu, claro, faço parte desse grupo, quem não faz hoje em dia? É quase como um clube secreto, onde todos os que estão fora, anseiam por uma vida regrada, carregada de horários e agendas, com boas remunerações e pequenas reuniões pós expediente as sextas feiras, mas quando finalmente entram não veem a hora dos anos passarem depressa, para então “aproveitarem”, com a idade pesando em seus ombros, o que restou de suas vidas com as migalhas da aposentadoria.

Eu, estou definitivamente cansado. Cansado dessas rotinas, cansado dessas pessoas. Cansado das regras e do cotidiano. Queria eu, um dia por delírio, viver em um lugar onde não existisse ninguém, ou qualquer preocupação. Utópico, mas um sonho real e intenso entre meus devaneios que me atormentam antes de dormir.

Lembro quando estava eu em um cinema com uma garota. Pamela era o seu nome, ou seria Carol? O nome em si não é relevante, e sim o filme. Um clichê completo é verdade, mas valia os 14,00 reais do ingresso. O enredo nos trazia um rapaz, bem-sucedido, com roupas finas e empresa própria. Daqueles que enriquecem antes dos 30, com alguma formula secreta da riqueza. Ele tinha um carro caro, e tinha estrutura suficiente para ter carros caros, mas era preciso manter uma veia humilde no rapaz. Algo para enganar o público e aproxima-lo dos espectadores, como se fosse um leve atestado de “humanidade”, como se isso ainda servisse de alguma coisa hoje em dia. Na trama, o belo rapaz com sua bela vida, em seu belo momento, ia viajar para mais uma excelente reunião de negócios – coisa que os filmes fazem parecer tão prazerosas quando na verdade se trata apenas de pessoas entediadas, criando mais tédio e aborrecimento – quando de repente, toma um tapa bem servido da vida, e vai parar em uma ilha deserta depois de ser o único sobrevivente de um acidente aéreo. Não me lembro exatamente como acontecia este acidente, eu estava distraído demais nessa parte. O fato é que ao se dar conta de sua atual situação, ele se desesperava completamente, e então toda a sua imagem de homem corajoso da cidade é desconstruída, revelando que em termos de comparação, ele não passava de um menino frágil e remelento esquecido no shopping.  Lógico, que logo quando volta a sua sanidade, ele é tomado por uma incrível inteligência ancestral e como se automaticamente vários genes antigos se ativassem, ele rapidamente cria várias formas de sobrevivência, com pedras, galhos e pedaços de sua roupa rasgada.

A maioria das pessoas cairia no mesmo desespero do rapaz, mas diferente do herói urbano, não sobreviveriam por muito tempo no local. Por isso, muitas não querem nem pensar na hipótese de que algo assim pudesse acontecer a elas. Quem dera eu fosse parar em uma ilha deserta. Seria uma oportunidade perfeita de me livrar das pessoas, das rotinas, das roupas…. Abrir a mente e aceitar a herança dos homens das cavernas, há muito perdida com o avanço das eras, vivendo apenas a favor e de favor da natureza. Seria magnifico não me preocupar com salários, com metas nem mesmo com telefonemas. Claro que as preocupações não sumiriam, apenas mudariam de forma. Invés de me preocupar em acordar cedo para não perder o ônibus, me preocuparia em acordar cedo para aproveitar o sol da manhã e caçar algo para comer, e claro, dormir cedo para não ser lanche dos predadores. No fim das contas ainda haveria uma rotina. Há coisas que depois de adquiridas, não conseguimos nos livrar de jeito nenhum.

O que me resta afinal é esperar por mais algumas dezenas, até que me aceitem em algum asilo. Estou realmente cansado de tudo, e não seria nada mal ter quem cuidasse de mim. É praticamente como se preso. Comida de graça com gosto de mingau, dormir ao lado de pessoas que roncam alto e falam dormindo, porém com um leve conforto a mais. Realmente não seria nada mal. Não mesmo. Eu estou cansado. Cansado do mundo, cansado das pessoas, das rotinas e cansado de mim.

juhliana_lopes 14-08-2017

Um amigo de um amigo meu #2

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Quando eu paro para pensar em todas as minhas amizades, percebo que conheço muita gente que não presta… na verdade, amigos dos amigos que normalmente vem com esquisitices. É curioso ver como é possível ter uma diversidade de loucuras, apenas em seu círculo de amizades. Às vezes me pergunto, será que sou tão louco como eles? Não, sou apenas um contador de histórias, e isso me fez lembrar da amiga de um amigo meu…

Ela era professora dele na verdade, se tornou amiga depois de uns anos lecionando. Continuaram amigos mesmo depois do curso, e eles sempre saiam para as festas juntos. Não namoravam. Apesar de mais velha e dele ter pedido uma vez, ela disse que não daria certo, não pela idade, mas por ela nunca se relacionar com ninguém pessoalmente.

Já perceberam como você fica mole com o calor? É horrível. É por isso que particularmente eu prefiro o frio. Pelo menos você coloca umas trezentas blusas, fica andando igual a um pinguim e consegue ficar à vontade. No calor, mesmo nu, você ainda sente calor… Se eu tivesse meios… bem, melhor não falar, vai que o amigo do meu amigo da semana passada aparece…

Enfim, ela nunca se relacionava com ninguém pessoalmente. Mania estranha? Pode ser, mas ela preferia assim. Dizia que tinha o dom natural de afastar as pessoas e que era mais fácil lidar com isso por uma tela. As poucas fotos que tinha com seus amores virtuais eram montagens, e mesmo com eles implorando para um “conhecimento mais íntimo”, ela se contentava e se dava por satisfeita por sua imaginação, pois nem pela web cam ela aceitava contato.

Os poucos amigos que tinha não se importavam muito, tanto que nem davam atenção quando ela contava seus casos para eles. Era como se ela tivesse duas vidas. A virtual com seu namorado invisível, e a social, com a suas aulas, amigos e festas. Família? Moravam em outro estado e ela não fazia mais questão de ir vê-los. Brigas, algo sobre o irmão ou primo, alguma coisa do gênero.

Meu amigo arrumou uma namorada, e o irmão dela, ficou muito interessado nesta professora. Claro que ela dava muitos foras, e ele continuava insistindo. Um dia, ela bebeu muito depois de terminar seu relacionamento “on”, pois o rapaz deu o ultimato: “ou nos encontramos ou tudo acaba aqui”; é claro que ela não precisou pensar e pela bebedeira tudo tinha acabado. O cunhado do meu amigo, muito prestativo, cuidou dela bêbada, ouviu todos os seus lamentos e se ofereceu para levá-la em casa. No carro, conseguiu se aproveitar de seu estado e lhe arrancar uns beijos, como percebeu que ela não resistia, não a levou para a casa dela e sim para a sua.

Sabe qual o problema das pessoas? Elas nunca ficam atentas. Sério. “Não, porque eu presto atenção em tudo”, e eu digo que não. As pessoas enchem o peito para dizer que conhecem exatamente a outra pessoa, e podem até conhecer mesmo, mas ainda assim, sempre a algo que elas nunca prestam atenção, e é normalmente esse detalhe que a pessoa gostaria que fosse notado. Algumas pessoas pensam em pedir ajuda, mas não sabem como, e são nesses detalhes que elas depositam todas as suas esperanças. É por isso que tanta coisa acontece…

Uma pessoa que dá aulas por exemplo. Visualmente é uma pessoa inteligente, que tem a capacidade de passar para a frente o conhecimento que adquiriu. Um exemplo, algo realmente notável. Seguindo a lógica, também podemos dizer que pode ser, preste atenção, pode ser, uma pessoa possivelmente estressada, por causa do comportamento pela idade de seus alunos, ou pelos outros professores que são péssimos colegas de trabalho, pela direção, pelo trânsito que pode pegar indo a caminho do trabalho ou a caminho de casa…. Mas pode ser também uma pessoa feliz por ter excelentes alunos, excelentes colegas de trabalho, pela direção competente e por trabalhar do lado de casa.

O calor. Sério, o calor é um fator que também estressa as pessoas. Eu me sinto estressado. É horrível! Mas é o que tem para hoje… A minha sorte são as maravilhosas bebidas geladas que além de refrescar meu corpo, adoçam a minha mente, com o seu toque suave deslizando pela minha garganta deixando um leve aroma de frutas cítricas no ar… Enquanto isso, o álcool invade a minha mente e faz as minhas ideias dançarem diante de meus olhos…. É realmente estimulante.

Sobre a professora, bem, quando ela notou que estava fora do caminho de casa, o álcool já havia abandonado sua mente. Na verdade, desde a hora que ela entrou no carro, mas continuou fingindo para ver do que o belo rapaz seria capaz. Ele era meio atlético, daquele tipo que todo mundo acaba olhando, mas nem tanto pela sua beleza e sim pela presença. Agora estava sem presença nenhuma, dirigindo rápido para sua casa com a sua presa na sua mão. Ou pelo menos ele pensava assim.

Depois de uma semana meu amigo disse que a irmã dele estava muito preocupada. Claro que um desaparecimento não era normal. A professora foi visitar a família, pai doente aparentemente, e depois de três dias, o cunhado do meu amigo ligou dizendo que estava bem, que só precisava de um tempo para pensar.

A professora voltou, e realmente, seu pai estava doente. Entenda, é normal eu começar a cogitar que essas histórias sejam mentiras, afinal, conheço todo tipo de gente, e todo tipo mesmo de situação pode acontecer. O cunhado do meu amigo também apareceu, tranquilo e aparentemente desistiu da professora, apesar de ainda dar em cima dela nas festas.

A professora logo arrumou outro namorado virtual, e logo terminou também, logo outros caras começaram a dar em cima, e logo ela ganhava mais caronas. Tudo seguia seu rumo normal, e eu mesmo aproveitei minhas férias para viajar.

Foi uma viagem ótima, aproveitei para andar muito, conhecer mais loucos e contar minhas histórias. Visitei museus das cidades, que guardam coisas como “o primeiro telefone”, “garrafas antigas de leite”, e outras tranqueiras. Uma cidade pode ter muita história por trás de uma garrafa antiga de leite, mas não me interessa muito saber, por isso voltei.

Ao voltar, meu amigo estava solteiro, a namorada dele voltou seja lá de onde ela veio junto com seu irmão. Claro que ele não queria assumir o que aconteceu, mas com um pouco de insistência ele me contou. Claro que eu não devia ter perguntado mais uma vez, mas pelo menos desta ele não estava me contando por telefone…

 

Eis o que aconteceu:

Ao levar a professora para casa, o garanhão, a levou no colo até seu quarto. Ela caiu praticamente “desmaiada” na cama, e ele se apressou para tomar um banho rápido. Ao voltar, ela não estava na cama, e ele começou a andar pela casa. A porta ainda estava trancada, logo ela não saiu, e ao voltar para o quarto ele a achou. Foi um corte rápido e o fato dele perambular pela casa só de toalha ajudou, logo em seguida ela o fez desmaiar com um líquido que ela tinha na bolsa e pegou o gelo que ela havia conseguido na cozinha para ajudar a coagular o sangue. Ligou para a ambulância e saiu calmamente. O choque foi traumático, ainda mais quando ele percebeu que não tinha mais jeito. Ele tentou esconder, mas logo a irmã dele descobriu e culpou o namorado por apresentar uma louca para o irmão dela.

Meu amigo, totalmente inocente, tentou ajudar, mas não havia jeito. Mais tarde, ele em casa, em seu porre pós término namoro recebeu a visita da professora. Ele, lógico se assustou pois, tudo estava trancado, mas não teve tempo de perguntar como ela entrou. Ela também não fez nada, pelo menos não o deixou eunuco como o seu ex cunhado, mas avisou que o próximo amiguinho dele que fosse atrás dela, ia sentir o gosto dele. Ele, claro, prometeu que ninguém mais ia se aproximar dela, e ela sumiu, da mesma forma que apareceu.

Ele se afastou dela, e só encontrava raramente em alguma balada. Quando algum amigo dele perguntava quem era, ele dizia logo que era uma amiga da sua mãe, assim ninguém se aproximava. Ela, continuou satisfeita.

E não, ela não só castrava seus pretendentes, como fotografava o estrago. Tinha um quarto em casa com as paredes repletas de fotos, cada uma com nomes e datas, e a última, ela mostrou para o meu amigo como um bom aviso.  

Eu mesmo já gravei o rosto dela, para nunca ter problemas desse tipo. Não que eu me importe, mas…. Não estou muito afim de sentir dor…

 

A moral? Tem alguma? Pessoas podem ser estranhas, mas, uma coisa é importante…. Respeite a esquisitices delas, e você pode sobreviver mais alguns anos…. Pelo menos inteiro.

 

E, já comentei com vocês como me sinto bem em ser solteiro? Isso sim é vida…

juhliana_lopes

Delírio de Carnaval

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Dia cinza, algumas gotas caem levemente sobre minha pele e eu só lembro de que o Carnaval está chegando. A população vai pra rua por uns dias e esquecem de todos seus deveres e problemas. Foi em um Carnaval onde eu cruzei com aquele olhar, depois de muitas doses de alguma coisa alcoólica, não me recordo do que era, talvez eu não tenha vivido nada antes daquele olhar, não consigo me recordar como fui parar na rua, nem porque estava de fantasia, mas aquele olhar profundo lendo minha mente fez com que nada importasse.

Me lembro da rua estar cheia, pessoas se esbarrando, derrubando bebida uns nos outros, perfumando o ambiente com um cheiro quase insuportável de cachaça e urina. Eu já estava de saco cheio dos esbarrões e procurava um refúgio, porém, aquele olhar me fez perder o juízo. Mais do que ler a minha mente, era como se por um segundo, aqueles olhos tivessem invadido todo o meu passado, cada passo, cada história, cada erro, me julgando e condenando quando fosse necessário.

Me perdi dentro de mim, e então, com cinco minutos de pura insanidade, passei a procurar aqueles olhos novamente. Era mais forte que eu. Minha mente delirava, imaginando o que eu poderia fazer quando enfim chegasse ao meu objetivo. O toque da pele, seus lábios roçando nos meus, o arrepio. Meu corpo queimava ao imaginar aqueles olhos me encarando de perto, me deixando sem ar. Mais do que a intimidade, minha mente ansiava por descobrir todos os segredos daquele olhar.

Não me incomodava mais o cheiro da rua, os gritos aleatórios em meu ouvido, os abraços indesejados. Eu apenas abria espaço entre aquele mar de gente, para seguir aquele olhar, que ora me ignorava e ora invadia minh’alma e perturbava meu juízo novamente, brincando comigo como um felino com a sua presa.

Foi quando aqueles olhos se foram. Como uma criança perdida em um shopping, ainda perambulei pelas ruas e até me arrisquei em alguns becos, porém, nada encontrei. Senti como se houvesse um buraco em meu peito, um vazio que fazia doer o estômago. Podia ser a bebida que já estivesse fazendo efeito, mas também podia ser dor de amor, principalmente um amor que nem mesmo houve chance de talvez ser correspondido.

Então, novamente em um dia cinza e uma leve garoa daquelas fininhas que deixam a gente doente, quatro anos depois, em um carnaval, enquanto eu tentava desviar das ruas cheias com meu carro, aqueles olhos passaram na minha frente. Tive que frear bruscamente para lhe observar com cautela. Eram olhos assustados, claros e que me reconheceram no segundo seguinte. Segui seu caminho com meus olhos e estacionei na esquina seguinte. O jogo havia começado novamente e aquele olhar não havia ido longe. Com a rua um pouco mais vazia, pude sentir seu perfume forte, que me inebriava, fazendo-me me perder em delírio. Acendi um cigarro. Se aqueles olhos iam brincar com meu coração novamente, eu precisava me preparar, afinal desta vez eu não estava sob efeito de álcool.

Seus passos furtivos eram rápidos, e agora eu compreendia porque havia perdido seu rastro aquele dia. Mesmo depois de tanto tempo, ainda eram os mesmos olhos, o mesmo olhar inquisidor capaz de julgar todos os meus pecados. Passei novamente a deseja-los para mim. Ora pareciam estar ao alcance de um passo e ora se afastavam me observando de longe. Eu precisava daquele olhar todos os dias. Eu queria aqueles olhos direcionados para mim e somente a mim.

Finalmente, por um momento eu alcancei. Lhe toquei o braço enquanto atravessava a rua, procurando multidões para se esconder. Olhos verdes, travessos e levemente assustados. Olhos que tão de perto possuíam a minha alma sem qualquer esforço. Olhos que piscavam lentamente, fazendo meus batimentos entrarem num descompasso preocupante. Pude observar melhor seu rosto. Lábios delicados e perfeitamente desenhados como uma pintura. Lábios que se mexeram para dizer alguma coisa, porém minha mente estava completamente enfeitiçada por aqueles olhos que não me permitiram ouvir, até que eu senti a pancada.

Um atropelamento, nada demais. Uma perna quebrada? É talvez tenha algo a mais. Me lembro da gritaria, da multidão que se formou e de mim perdendo aqueles olhos na escuridão, enquanto eu desmaiava.

Hoje, durante a noite, enquanto caminhava pelo lugar onde vi aquele olhar pela última vez, pensei ter visto novamente, mas não passou de impressão. Quem sabe daqui a três anos, em um novo carnaval eu possa lhe encontrar novamente e sanar esse vazio que se formou em minha alma e em minha mente. Quem sabe eu possa descobrir enfim os segredos daquele demônio dos olhos verdes.

Aleks Durden e juhliana_lopes 07-02-2017

Desejo

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A brisa leve bagunça meus cabelos enquanto te espero.

Meus pensamentos voam lembrando de nossos momentos.

Seus olhos me intimando, que observam tudo,

Que me deixam sem graça sem dizer qualquer palavra.

Seus braços que me tomam para si, de forma tão acolhedora,

Seu toque suave que me faz arrepiar,

Suas mãos quentes que fazem minha pele ferver.

Enquanto te espero, consigo sentir o gosto do seu beijo,

E sou capaz de ouvir suas palavras sussurradas em meu ouvido.

Quando estou com você, me sinto tão bem,

É como se o tempo não precisasse passar.

Cada momento ruim parece sem importância,

E cada segundo parece muito, longe de você.

Me sinto nas nuvens ao seu lado,

Uma liberdade que há muito eu não podia sentir.

Eu poderia pedir para me conter, para me controlar,

Mas ao seu lado, eu não penso em limites.

Algo em você faz eu me sentir leve,

Pronta para arriscar, pronta para seguir.

Algo em você me faz querer coisas que eu nunca pensei.

O cheiro do seu perfume, a forma como você sorri,

Tudo faz sentido em você.

A brisa leve bagunça meus cabelos enquanto eu te espero,

E seu olhar perturba a minha mente,

Pois é você que eu desejo,

É só você que eu quero.

juhliana_lopes 27-02-2017

Um amigo de um amigo meu #1

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Em minhas caminhadas, já me deparei com muitos casos, em um deles, um amigo, de um amigo meu, tinha uma mania estranha. Ele adorava dar presentes. Se você era amigo dele (assim como o meu amigo), podia ter a certeza que logo ganharia um boneco, uma toalha, um livro… sabe quando você compartilha uma imagem de algum objeto muito legal com “eu quero”? Pois bem, se fizesse isso, no outro dia ele aparecia com aquele objeto embrulhado para você e um “espero que goste, É SÓ UMA LEMBRANCINHA”.

Eu na verdade, não tenho preconceito nenhum com quem gosta de presentear os outros, mas o estranho era porque as gratificações aconteciam sem datas, sem motivos, apenas pelo prazer de presentear alguém. Um fetiche? Talvez, o que me surpreendia nesta história do amigo do meu amigo, era o fato de onde ele arrumava dinheiro para comprar tanta coisa?

Se você parar para pensar, uma agenda, um doce, um porta-retratos… sei lá, esses tipos de coisas são baratas, mas de repente o cara aparece com um boneco de edição limitada, livros e mais livros, até mesmo os raros, peças de cristal… Ele rouba bancos? Eu me perguntava isso e meu amigo também começou a ficar curioso e resolveu investigar.

A verdade é que você nunca deve investigar sobre “de onde vem” certas coisas. É como aquela história sobre restaurantes, se você for olhar a cozinha e o processo do prato, você nunca mais come lá. Se você não vê não te afeta, e isto pode ser considerado também em relação a pessoas que gostam de dar presentes.

Já vi muitas pessoas com estranhas manias, e não me importa os motivos, pelo menos não depois deste caso em especial. Antes que você comece a pensar mil coisas, vamos excluindo algumas… Ele não rouba bancos. Não assalta carros. Não pega a aposentadoria da avó doente. Não se finge de mendigo na rua. Não ganhou na loteria. Não faz programa. Não vende drogas. Não é empresário anônimo de uma marca famosa. Apesar de ser um médico formado, prefere trabalhar como diagramador numa editora.

Meu amigo bem que tentou deixar para lá, mas outras pessoas começaram a ficar curiosas e outra começaram a se aproveitar a boa vontade do “pobre” coitado. Sozinho? Um pouco, ele preferia se isolar na maior parte do tempo, só fazia contato mesmo quando ia presentear seus amigos e em festas. Meu amigo foi em frente e depois de um tempo sumiu.

Claro que todos ficaram preocupados com seu sumiço, inclusive o cara dos presentes. Alguns familiares pensaram em sequestro e outros que havia surtado. Lembrei de nossa última conversa e confesso que senti um leve arrepio na espinha sobre o que poderia ter acontecido mas achei melhor esperar do que especular. Passaram-se alguns meses até que a família não falou mais sobre o desaparecimento. Alguns amigos também receberam notícias e então foi a minha vez.

Um retiro. Se isolou, achou que estava muito sobrecarregado de serviço e resolveu descansar por um tempo. Pediu desculpas por não ter avisado antes, mas ele precisava desse tempo. Não sabia ainda quanto tempo ia ficar e me fez jurar que não contaria para ninguém sobre o lugar que estava, que deixasse que ele fosse avisando todos, um a um, calmamente, e que nunca comentasse nada sobre com o amigo dele.

É claro que eu devia ter ficado quieto, mas é claro que eu também fiquei curioso. Não devia ter perguntado, muito menos insistido, mas eu não pude resistir, queria saber o porquê apesar de já desconfiar. Ele falou mais baixo, começou a respirar mais forte, quando parecia que ia contar mudava de assunto. Resolvi ir direto ao ponto e perguntei se ele enfim descobriu a origem do dinheiro do amigo “papai Noel”, se era por isso que ele havia se isolado. Ele respirou fundo e disse sim, quando tomou novo fôlego para começar a contar, não disse mais que “ele ven…” e a ligação caiu.

Fiquei mais meses sem resposta. O pensamento me atormentava a noite, mas eu conseguia o ignorar perfeitamente durante o dia. As pessoas levavam suas vidas normalmente e outras continuavam a ganhar presentes. Numa noite qualquer, o amigo veio até mim com uma caixinha, dizendo que não me conhecia direito mas achava que eu iria gostar. Agradeci a gentileza mas recusei educadamente. Ele ficou um pouco chateado, mas então mostrei-lhe uma amiga em comum que ficaria mais feliz já que ela estava passando por um momento de luto na família, prontamente seu sorriso voltou e ele pôde voltar com seu prazer.

Meu amigo apareceu, um pouco mais assustado, cauteloso, sem mencionar muito seu retiro e aos poucos voltou a sua vida normal. Demorou um tempo para que ele voltasse a falar como antes comigo, pois por algum motivo ele evitava todos os seus confidentes.

 

Eis o que aconteceu:

Meu amigo descobriu o segredo, e achou tudo tão surpreendente que resolveu se isolar para proteger seus amigos e familiares e se proteger também. Quando começou a se comunicar e avisar, achou que estava sendo “invisível”, e quando finalmente ia confiar o segredo para alguém em seu momento, o dono do segredo apareceu.

Cortou o fio do telefone com uma tesoura enorme e o olhava fixamente. Largou a tesoura no chão, se agachou e perguntou: “Por que você sumiu?”. Qualquer outra pessoa surtaria e sairia correndo pedindo ajuda, mas depois do que ele ficou sabendo, aquilo era apenas uma consequência.

“Fiquei preocupado com você, toda a sua família, amigos… O que foi? Está passando por algum problema? Alguma dificuldade financeira? Eu posso te ajudar…”

É claro que ele não queria o dinheiro e nem os presentes dele. Queria paz. Mesmo com medo, como a situação já estava estranha o bastante, despejou tudo que sabia sobre ele. Acusou, mas de forma desesperada de quem está com medo e a acusação é a última coisa que resta antes do último suspiro. Só que ele não veio.

O amigo na verdade deu algumas risadas e lhe explicou a situação. Apesar de insano, ele parecia bem à vontade com aquilo. Lhe deu detalhes, tabelas, todo tipo de informação. O medo de meu amigo ficou preso na garganta. Ele parecia extremamente inofensivo, mas por que ele lhe contaria tudo se não houvesse outra intenção? E estava certo, só que do jeito errado. No fim da sua palestra, ele lhe deu um presente e sussurrou em seu ouvido: “Pode voltar, não precisa ter medo, você tem sorte, você é do tipo barato.”

A fonte do seu dinheiro era algo simples, um bom negócio na verdade. Ele era um excelente vendedor. No mercado negro. De órgãos.

Ele ia para outras cidades normalmente a noite, procurava pessoas “saudáveis”, as dopava e levava em seu carro. Pessoas saudáveis são mais caras que as que fumam ou bebem, vez ou outra pegava um bêbado na rua, mas sempre lucrava mais com crianças e pessoas na faixa dos 25 a 35 anos. Em casa, ele matava, dissecava, recolhia e armazenava cuidadosamente tudo que pudesse ser aproveitado. Numa tacada só (nesse caso, num corpo), ele voltava milionário de suas vendas, com a soma de todas as partes. Sempre compravam dele, pois, a qualidade do produto era excelente, e como todo “clube”, nunca ninguém perguntava de onde vinha pois, não era interessante.

Meu amigo, ainda tem a cicatriz e um rim faltando. Ele me garantiu que não lhe faz falta, e já se acostumou com a situação e acha tudo normal, porém, ainda fica nervoso quando ouve barulhos a noite e tem medo de atender o telefone.

A lição? Cabe a você descobrir, eu só digo que as aparências enganam e que se algo não te afeta, apenas aceite, pode ser perigoso descobrir de onde vem, ou não aceite e fique o mais em paz que conseguir, nunca se sabe se um dia todos esses mimos serão cobrados…

E de repente, nunca foi tão bom ser um fumante bêbado em toda a minha vida…

juhliana_lopes

Medo do Sol Nascente

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Há momentos em que caímos em questionamentos. O sentido da vida, que roupa usarei hoje, rosa ou azul, quente ou frio, levantar ou dormir mais cinco minutos…. A verdade é que seguimos sempre através destes questionamentos, como se eles fossem parte essencial para nossa existência. Pior que isso, só as respostas. Quantos não passaram a vida inteira procurando respostas a esses questionamentos e quando as tiveram, nem se importaram. Se você perguntar para uma pessoa a resolução de um problema que ela chorava há alguns anos, hoje em dia ela nem se lembra mais. As respostas se tornam inúteis, uma vez que o ser humano se acostumou a questionar. A busca, a “aventura”, as pequenas descobertas são mais importantes que a resposta em si. Uma conquista só tem graça durante o seu desenvolvimento, pois uma vez conquistada, uma vez adquirida, o resultado, o glamour, o poder se tornam fáceis. Aquilo que se buscava, aquilo que era apenas um objeto de desejo, se tornou algo ao alcance da mão. Após a primeira vez, aquilo perde seu brilho.

Por isso as pessoas sempre estão buscando alguma coisa e pouco se importando para o que já possuem. Mais do que isso, elas aprenderam a valorizar apenas aquilo que não possuem. Louco, não é? Do alto deste prédio, eu observo o dia a dia de muitas pessoas. Como formigas focadas apenas em um objetivo, as pessoas seguem apressadas, tropeçando umas nas outras. Um ou outro fica para trás, normalmente aqueles que ainda procuram aproveitar os poucos momentos da vida, mas ainda assim, todos sabemos que isso não dura para sempre.

De geração em geração, há sempre alguma coisa que está em alta e outra que é super desvalorizada, chegando ao ponto de ser objeto de vergonha. A ostentação do que está na moda, os holofotes, o Ser querido por alguém é o que faz você ser alguém na vida. Mas afinal, o que é ser alguém? É realmente preciso ser alguém na Vida, ou você pode passar por ela como um completo desconhecido e mesmo assim ser feliz?

Daqui de cima, mais do que as vidas tediosas, eu enxergo também os medos de cada um. Todos eles. E uma coisa eu posso afirmar, a maioria possui o mesmo grande Medo. Entre os mais comuns, há o medo de não ter tempo (que ironia… Ninguém tem), medo de escuro, mas não a falta de luz e sim a falta do conhecimento necessário para se alcançar a luz…. O medo de não ser capaz de enxergar os próprios caminhos. Mas, entre tantos medos que vivem travando as pessoas de conseguirem aquilo que querem, tornando assim tudo tão pacato, existe um que todos confundem, e um dia destes, enquanto eu estava entediada demais para observar as coisas de cima, e resolvi caminhar um pouco, acabei esclarecendo para um dos seres.

Era um dia nublado com temperatura amena, levemente frio. Eu caminhava descalça por ruas aleatórias, com minhas vestes esfarrapadas, já encardidas pelo tempo. É incrível como as pessoas ficam tão apressadas que se quer reparam quem anda a sua volta. Foi durante a caminhada próximo a uma ponte que eu notei, entre tantos passos apressados, um que parou subitamente. Era um rapaz alto e magro, com belas vestes sociais. Parecia muito angustiado, e tremia, enquanto olhava para o viaduto abaixo dele com certo delírio. Ele estava tão atordoado que não me viu chegando – ninguém vê. Então, enquanto o rapaz ainda namorava o asfalto abaixo dele, e vários carros passavam em alta velocidade, lhe fiz uma saudação, com um simples bom dia. Ele não ouviu, então repeti, porém sem toca-lo, apenas falando mais alto.

Como quem vê um fantasma, ele deu um pulo e eu pude sentir seu coração disparar. Um pouco ofegante, ele me olhou com calma dá cabeça aos pés e respondeu alguma coisa gaguejando, que eu não pude entender muito bem.

– Dia difícil? – Eu perguntei com um sorriso no rosto.

Um pouco mais calmo, mas ainda desconfiado, ele respondeu:

– Acho que sim…

– E olha que são só oito horas da manhã. – Respondi, mas desta vez sem encara-lo, olhando para o horizonte.

– Pois é… E você… Saiu de onde? – Ele me perguntou ainda desconfiado.

– Oh, eu? Não se preocupe comigo. Eu vivo vagando por aí, observando tudo. Nada demais.  – Eu respondi como se estivesse desinteressada.

Ele resolveu ignorar minha origem, ou mesmo o motivo para que eu estivesse ali. Com o olhar perdido para frente, ele fez o primeiro desabafo.

– As coisas andam tão difíceis. – Ele suspirou. – É horrível para mim passar por aqui todos os dias e perceber que eu não tenho coragem.

Olhei para ele, que estava olhando para os carros abaixo dele.

– Coragem é algo muito subjetivo, se você não souber do que realmente você tem medo. – Respondi calmamente.

– Filosofia de rua? – Ele perguntou em tom de riso.

– Quase isso. – Respondi, dando um sorriso de canto.

Então, depois de olhar para mim de cima abaixo e dar mais um suspiro, ele fez o segundo desabafo.

– Eu nem sei mais porque continuo aqui. Nada me prende sabe? Meu trabalho está a cada dia mais degradante, e o estresse é tão grande que já tem afetado minha vida pessoal. Aliás, vida pessoal é um elogio vindo da minha parte, pois não dá para chamar de Vida chegar em casa e deitar na cama com a roupa do corpo.

– Realmente. – Eu respondi enquanto observava os carros. Tão rápidos e tão vazios ao mesmo tempo. Sendo guiados por pessoas tão confusas e atordoadas como este rapaz ao meu lado.

Ele se calou. Senti sua boca seca, buscando um pouco de saliva para molhar os lábios. Antes que eu tentasse puxar algum assunto aleatório, ele desabafou pela última vez.

– Eu queria tanto acabar com tudo. Queria tanto me jogar daqui sem qualquer arrependimento, ou com todos eles, mas ainda assim me jogar sem pensar no que poderia acontecer depois…. Mas eu não consigo. Acho que eu tenho medo de morrer, essa que é a verdade. Sou tão fracassado que nem me matar eu consigo, e vou ser obrigado a ter essa vida de merda até a minha velhice, ou virar um morador de rua que nem você…. Sou realmente um medroso, uma vergonha.

A falta de umidade na boca de repente foi compensada com água nos olhos que rolaram pelo rosto. Eu podia sentir o toque quente da lágrima descendo pela bochecha esquerda, que rapidamente sumiu com um toque brusco de sua mão para apaga-la. Era mais do que óbvio que o medo dele não era e nunca ia ser da morte.

– Sabe… – Eu comecei – Você não tem medo da morte. São poucas as pessoas que tem.

Ele me olhou com os olhos marejados e uma expressão confusa.

– Você levanta todos os dias sem a menor vontade de levantar. Caminha até o trabalho, mesmo sem querer e quando chega lá, ainda consegue fazer um trabalho ótimo. Claro que isso não o satisfaz, porque você não admite para você mesmo que mesmo em meio a tantos momentos ruins, uma delas está de fato dando certo, e então, você reage desta forma.

Ele não se atreveu a dizer nada, parecia muito surpreso para isso.

– Olha…. – Continuei – Não é porque sua mãe te abandonou durante a infância que você deveria desistir de tudo entende? Claro que ela não foi correta com você, afinal, você era só uma criança, e é muito difícil entender qualquer coisa grave que aconteça durante essa fase. Todos temos pecados, e o dela foi querer viver. Você não pode ter medo de viver só porque ela te deixou para isso. Seu pai fez de tudo por você, e a sua avó também. A vida é mais do que os desejos pessoais, é a busca por novos objetivos quando os primeiros são frustrados.

Sua expressão mudou. Um misto de raiva e incredulidade. Além de claro, a típica não aceitação. Senti seu suor escorrer pela testa do lado direito, enquanto seus dedos se retraiam. Ele me olhou nos olhos com os punhos fechados e sem respirar direito, falou:

– Quem você acha que é para achar que sabe de alguma coisa sobre mim? Você não me conhece, como pode falar qualquer coisa sobre a minha infância ou sobre o meu trabalho? Você acha que só porque uma pessoa está angustiada ela está ferrada na vida igual você? Acha mesmo que todo mundo tem uma vida de merda igual a sua? Acha que só porque você veio parar na rua como uma mendiga, todo mundo tem uma história triste? – Ele falava alto e tremia um pouco.

– O que eu sou para você? – Eu lhe disse praticamente sem expressão.

Ele, um pouco surpreso com a resposta respondeu um pouco confuso.

– Nada.

– Então porque se importou com o que eu falei?

Ele não respondeu. Como se estivesse repassando tudo o que foi dito, se deu conta da sua raiva sem motivo.

– Você se importa porque é verdade. Não é medo da morte que você tem. É medo da vida. O puro e mais simples medo de viver livremente, encarando os desafios do dia a dia e mais, superando-os. Você tem medo de progredir, medo de crescer. Não é medo de que tudo se acabe. É medo do sol que nasce e te desperta para um novo dia.

Senti então seus olhos arregalarem. Suas mãos começaram a tremer mais, e agora até as pernas começavam a ficar um pouco bambas. Algo me dizia que ele estava começando a me enxergar de verdade.

– Quem é você, algum tipo de anjo? Alguma entidade? Algum ser sobrenatural? – Ele perguntou nervoso.

– Eu pareço um anjo? Não…. Esse título é muito forte para alguém como eu.

– Então quem é você? – Ele perguntou novamente, mas antes que eu respondesse, emendou mais uma pergunta – O que é você? Você é a morte?

Olhei para ele com um leve ar de desprezo. Não importa quantos anos os seres humanos vivam, nunca irão me reconhecer.

– Não. Não sou a morte. Muito pelo contrário. – Eu disse, me aproximando dele. – Eu sou a Vida. É de mim que você tem medo, e é por mim que sua mãe lhe abandonou, e por meio de mim que você irá para casa um pouco mais…. Feliz. – E então lhe toquei no ombro.

Era como se ele tivesse sido soprado. O leve toque foi suficiente para que eu pudesse sentir todo o seu organismo reagindo de uma vez só. Todos os estímulos, o sangue correndo nas veias e o ar passando em seus pulmões. Foi tão rápido que ele ofegou puxando o ar de uma vez como quem acaba de emergir de um mergulho.  Com as pupilas dilatas, ele olhou em volta levemente desesperado e sorriu. Ele não me viu. Não poderia mais me ver. Aquele sorriso tímido, se tornou uma gargalhada, levemente insana. Então, ele subitamente se calou. Olhou em volta novamente, e seguiu caminhando pelas ruas, apressado, segurando o riso. Ele estava feliz, estava motivado e bobo. Permaneceria assim por alguns dias, mas poderia estender o efeito, dependendo das suas atitudes.

Eu fiquei ali, no mesmo lugar observando.

Assim como a Morte vaga por aí, observando as pessoas, apenas as tocando quando é a hora certa. Eu vago por aí, apenas observando e reservando meus toques para àqueles que não se permitem viver o que tem. Reservando meu sopro para aqueles que tem medo de mim.

 

juhliana_lopes 12-02-2017

Tentação

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Rick estava entediado. Fazia muito tempo que não aprontava nada e hoje, estava sentado num bar decidido a fazer algum que fizesse sua noite valer a pena. Olhou ao redor, havia muita gente. De repente se formasse uma briga, em poucos segundos o bar todo viria abaixo. Há muitas garrafas, sempre quebram garrafas e “sem querer” alguém poderia pegar uma delas e passar no pescoço de alguém. Ele então se deu conta de que estava fazendo uma cara de doido, com isso, soltou um riso baixo , tomou um gole de sua cerveja e ficou olhando a rua no lado de fora.

Havia algumas casas noturnas na mesma rua, então ela estava cheia de gente indo de um lado para o outro falando alto e bebendo, se preparando para virar a noite. Rick estava cheio dessas pessoas. Vazias, superficiais e completamente descartáveis era o que ele pensava, mas era óbvio que ele também era uma delas, afinal, se fosse o contrário ele não estaria em um bar e sim com a sua família que logicamente, não existe.

Rick se sentia um pouco inferior a outros homens, afinal ele mesmo nunca teve sorte com mulheres. Na verdade ele poderia ser considerado um pegador, pois nunca lhe faltava uma companhia para passar a noite, porém, pela manhã elas sempre iam embora. Rick era bom com mulheres, mas não com namoradas. Ele sentia uma ponta de inveja daqueles caras que iam pra casa numa sexta a noite animados, porque tinham uma mulher lhes esperando, e na manhã seguinte elas lhe preparariam um belo café da manhã. Rick sentia falta de uma companhia para a vida toda, mas como sempre foi um homem muito prático, quando se sentia assim, ele simplesmente saia de casa e ia beber. Dependendo da quantidade, isso lhe rendia pelo menos uma semana sem pensamentos desse tipo e claro, uma bela ressaca seguida de lembranças das confusões que arrumou.

Acabou se perdendo em pensamentos novamente. Com a quantidade de pessoas passando pela rua, seria muito fácil para ele roubar uma garrafa de alguma mesa, sair correndo e quebrá– la na primeira pessoa que encontrasse pela frente. Seria simples e no mínimo engraçado, para ele. Mais risos soltos e mais goles, até secar a caneca.

Rick era um cara pacífico. Extremamente alguns diriam. Resiliente, sempre pensando em atitudes melhores, em formas de resolver as questões sem conflito. Paciência era um de seus dons, e claro, ele nunca se estressava. Porém, era cheio de pensamentos insanos e era só beber que ele dava espaço para que eles se libertassem, ainda assim, durante as ressacas nunca se lembrava de nada grave a não ser alguma confusão isolada, sem vítimas que acabavam com ele chorando no chão pedindo perdão.

Ele queria mais do que isso. Já passava da casa dos 30 e sentia que não tinha feito de significativo. Queria mais e sabia que podia, ele só precisava do primeiro passo. E ele deu, porém foi um passo para fora do bar. Enquanto caminhava durante a noite, desviando de pessoas bêbadas e apressadas, acendeu seu cigarro. Não gostava de fumar, mas o fazia depois de adquirir um leve vício, motivado pelos fumantes do trabalho. Eles podiam sair sem pausas programadas para fumarem do lado de fora, e mesmo que fosse por cinco minutos, parecia muito interessante sair assim a hora que queria. Logo ele também era um fumante, porém ficava apenas com o cigarro na mão conversando com os outros. Devido os olhares dos monitores, ele teve que aprender a fumar para continuar com suas saídas. Só fumava no trabalho, ou quando se sentia entediado, exatamente como naquela noite.

Andou pelo menos uns três quarteirões, até que conseguisse andar pela calçada sem desviar de ninguém. Andou mais até ficar completamente sozinho. Caminhando devagar, ouvindo o movimento da vida noturna sumir pouco a pouco atrás dele, foi surpreendido por um barulho vindo em sua direção. Com a cabeça baixa, viu sapatos de salto alto pretos, e conforme foi levantando o olhar, observou pelas pernas. Era uma moça linda, com um vestido preto. Ela tinha a pele branca que se destacava com as luzes da noite, e tinha o cabelo comprido, jogado de lado, que ocultava parte do seu rosto. Não olhou para ele, parecia muito concentrada olhando o celular enquanto caminhava depressa. Ela seguiu caminhando, indo em direção as casas noturnas e ele a teria ignorando sem problemas, como muitas que passaram por ele naquela noite, mas esta estava usando um perfume extremamente inebriante.

Ele simplesmente a seguiu. Se ia fazer alguma coisa hoje, seria levar aquela mulher para sua casa, nem que para isso ele precisasse brigar com alguém – no fundo, ele não sabia dizer se estava mais interessado na moça ou na possibilidade de uma briga.

Ela andava rápido e sem qualquer problema pra quem estava com a cara no celular. Desviava com destreza e ele trombava com um e outro para não perdê-la de vista. Até que ela subitamente virou e ele trombou com mais um rapaz para acompanhá-la. Era uma boate grande, e as luzes que piscavam sem parar, fariam terror a um epilético. Ele por sua vez, desviando de um e de outro, conseguiu chegar até a bela moça, que continuava com a cara no celular. Ela estava encostada num balcão, esperando um barman fazer a sua bebida. Ofegante, Rick se aproximou, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, ela disse sem tirar os olhos do celular:

– Que pique pra quem não está interessado.

Rick ficou confuso por um momento, e só conseguiu pedir pra ela repetir.

– Eu vi você lá atrás. Correu muito pra quem não vai conseguir nada. – Ela disse em um tom frio.

Recuperando o fôlego, Rick entendeu que ela já estava lhe dando um fora, porém, ao mesmo tempo continuava confuso: Como ela o viu se nem ao menos olhou pro lado? De qualquer forma, não iria sair por baixo, aquele perfume era bom demais para ele ignorar.

– Você podia ao menos esperar eu fazer a proposta para me dar um fora. – Ele respondeu com um sorriso no rosto.

– Então faça. – Ela disse em um tom sério, pela primeira vez levantando o rosto. Ela era mais linda do que ele imaginava. Atordoado com aquela beleza, ele só conseguiu dizer:

– Eu queria te convidar pra ir pra minha casa e não sair de lá nunca mais.

Ela fez um leve olhar de espanto, mas sorriu. Um ponto pra ele.

– Isso é algum tipo de sequestro? – Ela disse em um tom mais leve levantando uma sobrancelha.

– Eu… – Ele pensou um pouco só então percebendo o que tinha dito. – Espera, eu não quis dizer dessa forma… Caramba… – Ele tentou organizar seus pensamentos, um pouco sem graça. – Quero te convidar pra ir em minha casa, porque eu quero ter você pra mim, mas não só hoje, todos os dias, pra sempre. – Disse um pouco mais confiante.

Ela riu. Ele ainda estava um pouco confuso sobre isso ser bom ou ruim, mas pelo menos ela havia parado de olhar no celular.

– É pior do que eu pensei. Você está me pedindo em casamento? – Ela disse, rindo.

Ele relaxou e riu também e então arriscou pegar na mão da moça, que era um pouco fria.

– Se você entender desta forma, eu vou ficar imensamente feliz. Você é muito linda!

Ela abaixou levemente a cabeça com certa graça medieval e disse:

– Obrigada, mas acho que preciso saber das suas qualidades antes. – Ela respondeu fazendo cara de séria, porém abriu um sorriso logo em seguida.

Rick, um pouco mais confiante falou de seu trabalho e seus passatempos, além de claro, ocultar seus pensamentos insanos que naquele momento, não faziam mais sentindo algum. Como se lesse seus pensamentos, ela disse:

– Parece bom, mas acho que não posso ir com você. Nada me garante que você não seja um maníaco psicopata querendo me usar nos seus planos malignos.

Apesar da risada dela que veio em seguida, a frase lhe deu um pouco de impacto. Ele disfarçou, mas resolveu reverter o papo

– Bem, você pode ir ao meu trabalho e todo mundo vai confirmar que eu não sou um doido. – Ele riu. – Mas e você, quem me garante que você não é uma louca, querendo roubar meus órgãos, disfarçando para que eu fique interessado? – Ele disse com um tom de deboche.

Ela então se aproximou dele, com o rosto bem perto e as bocas quase se tocando. Então ela disse bem suavemente:

– Eu garanto que não sou…

Depois, ela voltou ao seu lugar e o ficou olhando fixamente. Era um olhar sedutor, penetrante, sem pudor. Rick se viu novamente enfeitiçado, por aqueles olhos, aquele perfume e aquela boca… Ah, aquela boca, tão perto da sua. Ela ainda o estava olhando quando ele pegou em sua mão e a guiou para fora. Ela não relutou, não perguntou, nem fez piada. Apenas o seguiu.

Eles seguiram em silêncio, andando e se afastando da movimentação, até que ela o puxa para um beco. Ele, surpreso tentou questionar, porém foi calado por um beijo. Um beijo intenso, daqueles que começam devagar e vão tomando conta, tirando o juízo de qualquer um. Ele nunca havia sido beijado assim.

As mãos começaram a dançar, ainda sem interromper o beijo, que já estava acompanhado de respirações profundas. Ele explorava o corpo da bela dama, que mesmo com o vestido, demonstrava as curvas que ele queria se perder durante a noite toda. As mãos delas pareciam nervosas. Arranhavam seu peito, entravam pela camisa até chegar as suas costas, ele sentia suas unhas lhe rasgando pouco a pouco e mesmo com a leve dor, ele sentia um prazer indescritível.

Os amassos dos dois naquele beco escuros estavam ficando cada vez mais intensos e ele já se preparava para tirar a camisa. Ela se afastou um pouco, e enquanto Rick arrancava sua roupa, sentiu uma fisgada na costela. Diferente das unhas, essa entrou profunda e ele só pode sentir o frio da lâmina se aquecer com seu sangue quente. Olhando para ela sem entender o que estava acontecendo, gemeu abafado quando a faca saiu lhe deixando apenas um buraco.

A moça bonita, mais linda ainda a meia luz do beco, colocou a mão em seu ombro e começou a morder e lamber sua orelha. Por um momento ele se esqueceu da dor e começou a se entregar para ela novamente que passava a mão que antes estava no ombro, por todo o seu corpo com volúpia. Então, quando Rick sentiu ela mordendo seu lábio suavemente, sentiu uma nova fisgada, no seu estômago. Além da dor, desta vez ele começou a sentir que seus sentidos também estavam se perdendo, pouco a pouco conforme o sangue escorria. Desta vez, ele reagiu dizendo:

– Você é louca? – Ele tossiu e cuspiu sangue. – O que pensa que está fazendo?

– Eu? Nada demais, estou fazendo o meu trabalho. – Ela respondeu calmamente, enquanto limpava a faca com um lenço.

– Você não disse que não era uma maníaca? Que garantia que não era louca? – Rick gritou enquanto continuava a cuspir sangue e perdia a força nas pernas, sentando pouco a pouco no chão se apoiando na parede.

– Mas eu não sou uma maníaca. – Ela respondeu surpresa.

– Então o que é isso? – Rick gritou nervoso, cuspindo sangue.

– Isso, não é nada. – Ela disse se aproximando e se abaixando para olhar em seus olhos. – Eu não sou uma maníaca Rick… – Ela passou a mão em seus cabelos – Eu sou a morte. A sua morte Rick. Eu só vim fazer o meu trabalho. – Sua voz era pesada e seu tom era frio.

Rick não conseguiu dizer mais nada. Apenas a olhou apavorado e suspirou profundamente pela última vez, buscando o ar que de repente ele tinha perdido.

juhliana_lopes 04-02-2017